Quando a medicina e os mitos se encontraram
Você sabia que houve uma época em que a medicina primava pela cura do corpo através do equilíbrio do espírito? Pois é, nem sempre a medicina foi praticada como ela tem sido nos dias de hoje. No entanto, o adoecimento sempre foi uma questão muito importante para a humanidade. E enquanto arte da cura, podemos remontar a origem da medicina a um passado longínquo. Houve um tempo em que ela foi mítica, na Antiguidade Clássica, Grécia e Roma Antigas, e é deste tempo que a medicina moderna herdou seu símbolo, o caduceu: a clava e a serpente.
Esculápio é o herói que foi o portador da representação máxima da medicina: a serpente domada, símbolo da vitória do espírito sobre o princípio de todo o mal; e a clava, que nas mãos de um herói representa a vitória sobre a banalização da vida.
Lembrar a história de Esculápio ajuda a compreender a visão mítica em relação à cura, segundo a explicação de Paul Diel, quem faz a tradução simbólica do mito. Também nos fornece elementos sobre a medicina Grega, tanto do ponto de vista de sua doutrina, quanto do ponto de vista de sua prática.
A Grécia antiga é considerada o berço da civilização ocidental moderna e contemporânea. Ela própria é fundada através de um esforço civilizatório complexo e sofisticado, deixando para trás o modo de vida pagão e nômade. Este período de mudanças também foi marcado por uma reforma nas artes médicas. A consolidação da pólis grega é acompanhada do progressivo abandono do modelo anímico de arte da cura, que acreditava na equivalência dos espíritos da natureza e dos espíritos humanos, a partir do qual a cura seria uma correta evocação dos espíritos bons ou afastamento dos espíritos maus, por meio de uma espécie de ritual ou evocação xamânica.
A medicina mítica grega era mais sofisticada. Fundada na tríade mítica Apolo, Quíron e Asclépio (ou Esculápio), postulava uma relação do equilíbrio da alma com a saúde do corpo, abandonando a crença de que os espíritos da natureza equivaliam aos espíritos do corpo. Se antes, os feiticeiros eram os melhores representantes desta nobre arte, a partir da civilização Grega os portadores dos saberes curativos passarão, por muito tempo, a ser os sacerdotes; como demonstrado no quadro abaixo:
O destino de Esculápio é descrito, segundo a lenda, como o de um herói que é punido por um raio de Zeus depois de ter ultrapassado os limites da sua arte de cura ao ressuscitar um cadáver. Falaremos mais sobre a história desse deus-herói num próximo post. Até lá.