A medida da presença
Quando falamos em cuidados dos profissionais de saúde em relação a seus pacientes, há um aspecto muito importante a ser considerado, que é o da presença do cuidador em relação a quem recebe os cuidados. Aqui não se trata da presença física; o cuidador precisa ser uma presença segura para quem recebe o cuidado. Mas quais são a forma e a medida adequadas a essa presença?
Luís Claudio Figueiredo, no texto A metapsicologia do cuidado (2007) afirma que é necessário ajudar o indivíduo que está sob cuidados a “fazer sentido”, isto é, a definir um solo humano para a existência. O agente de cuidados que ajuda o paciente a fazer sentido, apresenta-se de duas formas: através da presença implicada e da presença reservada.
Uma das funções do cuidador implicado é dar sustentação, suporte. O cuidador oferece holding, nas palavras do psicanalista inglês Donald Winnicott, e continência de acordo com o também inglês Wilfred Bion. É oferecer alimento, calor, hospedagem, acolhimento. Ele também oferece ao receptor dos cuidados reconhecimento do que ele tem de próprio e singular, prestando atenção e respondendo quando for questionado. Quem cuida precisa inclusive interpelar o sujeito, chamando-o a responder por seu nome, por sua existência como faz o médico que pede ao paciente que descreva suas dores e sintomas.
Aqui faz-se de extrema importância salientar que para que o cuidador possa estar efetivamente com a sua presença implicada, é necessário que ele próprio tenha uma rede de sustentação de cuidados. Holding e continência são necessários a todos, mas principalmente a quem lida com a presença do sofrimento humano no seu dia-a-dia.
Tudo que vem em excesso deixa de ser saudável. Presença em excesso pode ser extremamente prejudicial ao indivíduo que recebe, pois sufoca e provoca dependência. As funções da presença implicada precisam ser realizadas com equilíbrio; o cuidador mantendo-se assim em presença reservada, uma forma de presença não ativa do cuidador.
Segundo Figueiredo, os malefícios da implicação pura ficam evidentes quando em nome de salvar ou curar a todo custo se realizam excessos. É preciso saber moderar, e nesse sentido o não-cuidado pode ser a forma mais eficaz de cuidado. Atualmente existe na medicina a corrente de cuidados paliativos, que se preocupa com essa questão em pacientes terminais.
O cuidador, quando está presente com reserva, renuncia à sua própria onipotência e aceita sua limitação. Para que isto seja possível é necessário que o ele possa se deixar cuidar também; compartilhar questionamentos e angustias com outros profissionais torna-se atitude fundamental.
Entende-se então que o cuidado não envolve apenas normas e técnicas, mas também um equilíbrio entre presenças implicada e reservada. Este equilíbrio envolve o procedimento e o cuidado, mas também a escuta do sofrimento do paciente e familiares, que precisam ser participantes ativos no tratamento. Esta atitude de escuta facilita que não haja resistências em relação ao tratamento e para que estes sejam responsáveis e conheçam um tanto da doença para poder aderir ao tratamento ou evitar novo adoecimento.
Através dos conhecimentos desenvolvidos pela psicanálise, O Paciente Simplificado elaborou um programa que fornece ferramentas para que o profissional de saúde, preocupado com o cuidado que oferece, possa pensar a respeito do equilíbrio de sua presença. Sempre lembrando que o cuidado consigo mesmo é fundamental não só para que o trabalho seja bem exercido, mas para que a saúde do cuidador seja preservada.