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Por que investir no bem-estar do profissional de saúde é um bom negócio?

Pesquisadores de Harvard, Stanford e Singapura, publicaram, juntamente com a Revista da Associação Norte-Americana de Medicina, um estudo recente (dez. 2017) ressaltando a importância do cuidado com o bem-estar dos médicos, tanto no que diz respeito ao impacto no trabalho da assistência, quanto no que diz respeito aos prejuízos provocados pela estafa e pelo burnout, que chega a atingir 50% dos médicos no Brasil.


Segundo o estudo, embora exista o entendimento moral e ético à respeito da importância do investimento no bem-estar do médico, falta conscientização sobre os prejuízos econômicos que a falta de investimento adequando na prevenção e cuidado com o burnout acarretam.


O estudo de caso apresentado para lidar com o desgaste do médico é multifacetado e inclui custos associados à rotatividade, perda de receita associada à diminuição da produtividade, risco financeiro e ameaças à viabilidade da organização a longo prazo devido à relação entre burnout e a menor qualidade do atendimento, impactando na satisfação dos clientes (pacientes, familiares e acompanhantes) e em problemas com a segurança do paciente.


O estudo também apresenta resultados que os pesquisadores consideram conservadores para o retorno do montante investido pela instituição em programas de bem-estar. Segundo os autores, o retorno financeiro gira em torno de 12,5% ao ano por evitar gastos com baixo rendimento dos profissionais, afastamentos por doenças, turnover e treinamento, perda de receita no médio e longo prazo devido à insatisfação dos pacientes, além dos custos do risco jurídico associado aos erros médicos e a falta de segurança na assistência à saúde. Desta forma, dizem os pesquisadores, investir em iniciativas que promovam o bem-estar do profissional de saúde é importante para promover o engajamento, bem como superar a percepção errônea de que nada significativo pode ser feito a respeito. Dado que o retorno do investimento é mensurável, os pesquisadores dizem ainda que abordar a questão não se trata apenas de uma responsabilidade ética das organizações, mas também de uma responsabilidade fiscal. Além disso, o artigo também explica como calcular os indicadores de retorno do investimento de maneira objetiva.


Acompanhe abaixo o resumo dos principais gargalos financeiros associados à falta de investimentos no bem-estar do profissional de saúde dentro de uma organização, segundo a pesquisa.


PERDAS ASSOCIADAS AO BURNOUT


As pesquisas indicam que médicos estressados tendem a desligar-se dos locais em que trabalham numa taxa duas vezes maior do que os profissionais que gozam de uma situação de bem-estar no emprego ao longo de um período que se estende por até dois anos.


Estudos históricos sugerem que o custo de substituição de um profissional é de 2 a 3 vezes o salário anual de um médico. Estes custos estão associados ao recrutamento e seleção, assim como à perda de receita durante este período que vai do recrutamento à integração e o tempo que ele leva para alcançar a eficiência ideal em um novo sistema.


Vale ressaltar que esses custos diretos relacionados à rotatividade não levam em conta o impacto disruptivo destas mudanças sobre os pacientes, sobre os outros membros da equipe de atendimento e sobre a cultura e a reputação da organização. De fato, estudos prospectivos demonstram que a rotatividade de qualquer membro da equipe de atendimento aumenta o risco de burnout entre os outros membros pelos 12 meses subsequentes, mesmo se alguém for contratado para substituir esse indivíduo. Assim, a rotatividade dos médicos pode aumentar as taxas de burnout em toda a equipe.


PERDAS ASSOCIADOS À QUEDA DA PRODUTIVIDADE


Embora seja uma dimensão difícil de quantificar, o estudo indica que as maiores perdas financeiras causadas pela falta de bem-estar dos profissionais em uma instituição está associada à queda de produtividade.


Segundo uma pesquisa realizada com 2.500 médicos, o aumento de um ponto numa escala de sete pontos de estresse, ou um ponto numa escala de cinco pontos de insatisfação profissional, acarreta no aumento de 30% a 50% de chances dos médicos reduzirem empenho profissional durante os dois anos seguintes.


QUEDAS NA QUALIDADE, SEGURANÇA E NA SATISFAÇÃO DO PACIENTE


São grandes as evidências que associam o desgaste do médico à queda na qualidade do atendimento, demonstrando uma relação entre o estresse e o aumento dos erros médicos. Em um estudo longitudinal no qual foi aplicado uma escala de cinquenta e quatro pontos para avaliar a exaustão emocional, assim como uma escala de trinta pontos para avaliar o grau de despersonalização dos médicos, ficou comprovado que para cada ponto de aumento de um destes fatores havia o aumento de 3% a 10% na probabilidade acontecer um erro médico grave ao longo de um período de três meses. Uma situação alarmante, ainda mais se considerarmos que este estudo foi feito sem levar em conta os efeitos da fadiga física dos profissionais.


Outro estudo feito em cinquenta e quatro unidades de terapia intensiva na Suíça descobriu que o nível agregado de burnout entre médicos e enfermeiros trabalhando na unidade foi correlacionado com as taxas de mortalidade dos pacientes atendidos naquela unidade. O acompanhamento longitudinal dessas unidades demonstrou que o burnout levou a uma erosão do trabalho de equipe durante os nove meses seguintes, resultando na diminuição da segurança direta e indireta do paciente através de seu impacto no cuidado em equipe.


Além disso, pesquisas feitas entre enfermeiros demonstraram uma correlação entre o estresse emocional destes profissionais e a disseminação de infecções hospitalares, consolidando ainda mais a relação entre o bem-estar profissional e os resultados clínicos dos pacientes tratados.


Existem ainda uma série de estudos que associa o bem-estar do médico à satisfação do paciente com o atendimento. O esgotamento dos médicos também tem sido associado ao desenvolvimento e ao desfecho dos casos. Por exemplo, um estudo prospectivo longitudinal em pacientes demonstrou que o tempo de recuperação pós-alta foi mais longo para pacientes atendidos por médicos que estavam mais estressados.


Outros estudos evidenciam a relação entre a falta de bem-estar do médico em seu ambiente de trabalho e os hábitos de prescrição abaixo do ideal, assim como o pedido de exames desnecessários e a falta de adesão do paciente às recomendações dos médicos. A principal preocupação que todos esses estudos levantam é o efeito deletério do sofrimento físico nos pacientes. Eles também têm implicações econômicas secundárias, porém substanciais para organizações de saúde no que diz respeito à satisfação dos pacientes, às medidas de qualidade, à contratação, aos custos para compensar e prestar assistência aos pacientes mal atendidos e às despesas relacionadas a litígios legais.


Para ler o artigo na íntegra (em inglês), clique aqui.


Referência:


Shanafelt T, Goh J, Sinsky C. The Business Case for Investing in Physician Well-being. JAMA Intern Med. 2017;177(12):1826–1832. doi:10.1001/jamainternmed.2017.4340


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