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A incrível história do pai da psiquiatria brasileira


Juliano Moreira foi o pioneiro da psiquiatria brasileira. Além de notável intelectual, era considerado um “um sábio, no mais amplo e rigoroso significado dessa expressão”, segundo palavras de ninguém menos do que Albert Einstein.


Precursor no estudo da Psicanálise no Brasil, foi o primeiro professor universitário a incorporá-la ao estudo da medicina em terras nacionais. Seu espírito arguto e crítico considerava que a pouca difusão das ideias de Freud no país era causada porque “…em geral os colegas, em obediência à lei do menor esforço, aguardam que as ideias e as doutrinas passem primeiro pelo filtro francês para que nos dignemos a olhá-las contra a luz (...)".


Sua história revela seu aspecto surpreendente ao conhecermos as circunstancias e conquistas de sua vida, que teve início ainda no século XIX. Juliano Moreira foi um negro nascido em Salvador no ano de 1872, apenas um ano após a promulgação da Lei do Ventre Livre (1871). Durante os seus primeiros anos viveu e trabalhou na residência do Barão de Itapuã. Apadrinhado pelo Barão, ingressou na faculdade de medicina quando tinha apenas 13 anos de idade e construiu uma carreira acadêmica brilhante. Representou o Brasil em importantes congressos internacionais e presidiu significantes instituições médicas nacionais e internacionais no campo da medicina.


Em 1903 mudou-se para o Rio de Janeiro onde dirigiu o Hospício Nacional de Alienados até 1930. Durante este período, Juliano Moreira teve como alunos alguns dos maiores expoentes da psiquiatria nacional, tais como Fernandes Figueira, Franco da Rocha, Miguel Pereira, Afrânio Peixoto, Antônio Austregésilo, Henrique Roxo, Ulysses Vianna, Gustavo Riedel e Heitor Carrilho.


Seu trabalho é reconhecido pela abordagem humanitária no tratamento psiquiátrico. Juliano Moreira foi o primeiro médico a abolir o aprisionamento dos pacientes. Combateu intelectualmente o racismo científico, refutando a tese de que as doenças mentais estariam ligadas à origem racial das pessoas. Seus estudos indicavam que o sofrimento mental encontraria suas origens em fatores psicossociais, como a falta de acesso à educação e a indisponibilidade condições adequadas de higiene e dignidade humana. Além disso, reformulou a estrutura física dos manicômios e criou laboratórios dentro dos hospitais, introduzindo novas técnicas de tratamento e diagnóstico. Também fundou, em 1911, o primeiro Manicômio Judiciário do Brasil.


Dentre os cargos de destaque que ocupou, foi presidente da Academia Brasileira de Ciências e membro das sociedades médicas mais importantes do mundo, como a Antropolegische Gesellschaft (Munique), a Societé de Medicine (Paris) e a Medico-legal Society (Nova York). Contribuiu ativamente na criação da lei de assistência aos alienados, de 22 de dezembro de 1903 e fundou a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins, em 1905.

Faleceu em 02 de maio de 1933, na cidade de Petrópolis, vítima da tuberculose.


Colônia Juliano Moreira em 1924

Hoje o seu nome é lembrado, sobretudo, por conta da conhecida Colônia Juliano Moreira, localizada no bairro de Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro. A gigantesca instituição psiquiátrica tem dimensões próximas às do bairro de Copacabana e é conhecida por abrigar o museu Bispo do Rosário.

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